Ei, tu! Proto-zoo...

Aaaaah... música. Difícil (?) descrição para um termo tão frequentemente usado. Há pouco que se celebrou precisamente o Dia Mundial da Música o qual, a pesar de ter sido concebido como um encontro de músicos anónimos e afeiçoados, costuma ser campo de apropriação das grandes multinacionais desejosas de colocar os seus artistas em primeiro plano. No Estado espanhol, com o pretexto de que «La música vive su gran fiesta con las actuaciones de los artistas emergentes más destacados del rock independiente nacional y europeo», a empresa cervejeira Heineken levou a Madrid (claro), artistas como Señor Chinarro, Nacho Vegas, Hola a toda el mundo (artistas destacados?), Christina Rosenvinge (sim, a de Álex e Cristina, segundo parece agora "mola"), Polock (outro subproduto sem alma da indústria musical espanhola) e assim mais ou menos os habituais artistas do independente mundo globalizado do já, tristemente, exclusivista e imperecedoiro indie-pop nacional (e algum mais do também tristemente hiperfiltrado indie-pop europeu, como The XX).

Não há mais que botar-lhe um olho aos cartazes dos festivais de verão que proliferam por toda a parte desde há um par de anos para comprovar que as pantalonas estreitas, os penteados ideológicos de chachi-franja (t.c.c. flequillo) e as lentes-pasta são já inescusavelmente o prelúdio dum concerto onde possivelmente Russian Red, Lori Meyers, Tulsa, Sidonie, Klaus & Kinski, Supersubmarina, Francisco Nixon, The New Raemon e assim um desesperante e longuíssimo et caetera, debulharão os seus atribulados sentimentos de incomparável imensidão sobre o amor perdido, o amor conseguido (porém, sempre com um toque de tristura indelével. Sempre mal, sempre.) e não sei que merda de mágico-fraternidade entre as gentes trás um "buen porrito, que siempre le da un toque al asunto".

Menção à parte merecem os triunfadores do freakismo alternativo, essa casta de submúsicos que manifestam não terem conhecimentos sobre nada que tenha que ver com o domínio instrumental (nem sequer da botelha de anis com culher) e aí estão, deitando desvergonha nos cenários de meio Estado espanhol. Refiro-me aos Franc3s, Ultrazorras e assim por aí todos esses representantes do atual desastre pós-modernista que bem se pode resumir na frase "seré diferente como sea, incluso dando puta pena". Um mundo de alternativos de salão cuja única moda é a contra-moda e o pensamento vazio (default thinking). Bravo nen@s!

Há quem pensa que tudo isso é música, e que há que a respeitar. Mas, que é o respeito? Aturar que ano trás ano os concelhos programem atuações repetidas até o extremo de Bisbal, Alejandro Sanz, Shakira e todos esses filhos de puta que trabalham um mês ao ano (com sorte) e que se dedicam a nos dar lições sobre a pirataria, a dignidade e outras mentiras construídas para "el perdón de los pecados"? É respeito acaso dizer: "não gosto de Russian Red, mas respeito quem gostar dela". É isto respeito ou é cinismo? Não se mostra muito mais respeito por um fã de Chenoa, por citar um dos múltiplos casos possíveis, dizendo-lhe que ela "é uma tipa sem conhecimento musical nenhum, que canta o que lhe mandam, que não tem poder de decisão para dirigir a sua carreira devido à sua própria incapacidade como artista (?) e que tudo o que ela faz é plano, superficial e carente de qualidade". Não poderia propiciar isso uma reação na outra pessoa? Por mais que for só num 1% das pessoas, não pagaria a pena a sinceridade sem esperar compreensão, por simples altruísmo?

Eu, desde aqui, manifesto a minha reclamação para que nos não usurpem o direito a respeitar criticamente. Acho que hoje em dia "respeitar" é mal entendido como "não manifestar-se", de aí que a gente com discurso Playhouse Disney pense que como tu não te pronuncias assentes e respeitas. E uma funda de nabo! Eu me não pronuncio porque plantar leitugas no deserto é tempo perdido, mas se me preguntarem por que é que não gosto dos feijões com manteiga de amendoins e sumo de maracujá eu vou responder. E vou responder com respeito, isto é, com a minha visão da realidade, para não distorcer o debate partindo duma posição cómoda em que o que vê não conta (ou conta o que pensa que a outra pessoa quer ouvir) e quem não vê conta a história toda. E logo já veremos como é que enquadramos a empatia em tudo isso...

E vamos, que logo de toda esta auto-afirmação algo de conclusão tem de haver, não é? E a melhor conclusão vem sendo um bom exemplo: The Cinematic Orchestra foram os encarregados de selecionar e misturar uma nova edição da série de compilações Late Night Tales, saída o passado mês de Abril e que podeis escoitar a seguir. Uma hora de verdadeira música. E eu, com todo o meu respeito, vou dizer-te: se não gostares, fode-te porque é problema teu, não da música.

Saúde!

Late Night Tales (Mixed By The Cinematic Orchestra) by comiK.O.

Tracklist aqui.

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