Uma fábula da crise (?)

Crise s. f. (1) Alteraçom que se manifesta subitamente no curso de uma dança, seja para bem ou para mal. (2) Crise de nervos ou Crise emotiva: ataque de nervos, descarga emotiva brusca. (3) Conjuntura perigosa. Situaçom anormal: a crise financeira [gr. krysis, lat. crisi].

Dr. Dàlalálcôl (Universidade da Vida)

Um caramujo católico nom-praticante topa-se um dia (ele crê que inesperadamente) com um gato muito bem vestido que lhe oferece trabalhar para ele por um salário que o dito gato diz que é digno. O caracol aceita porque nom tem nem p*** ideia de como valorar a relaçom trabalho-quartos e mais porque quer mercar, desde que era uma merda de caramujinho pequeno e aparvado, um automóvel ao que lhe poder pôr autocolantes de localidades turísticas e de marcas de revistas.

O humilde caracol começa o seu trabalho muito contente e diligente e vai aforrando quartos sempre que pode para os depositar num local especializado que rege uma amável raposa rosa. A raposa guarda-lhe o dinheiro e, a cambio, pede-lhe que ele invista uma pequena quantidade deste no local: "é o justo", pensou o caramujinho. "Mira, e já que estamos, poderias-me emprestar algo mais de dinheiro para mercar o coche que quero ter desde que era uma merda de caramujinho pequeno e aparvado?". "Isso está feito!", retrucou a raposa, "com os quartos que depositaste antes e mais os quartos doutros caramujos muito aplicados e aforradores coma ti, vou emprestar-te a quantidade que necessitas, isso sim, convirás comigo em que o justo é que se eu te dou 12.000Þ (moeda do bosque), ti me devolvas 12.500Þ". Isto nom o entendeu mui bem o caramujinho, mas aceitou porque a outra alternativa era... oh, meu deus! nom mercar o coche novo! impossível! inaceitável! Assim que o caracolinho conseguiu os quartos e marchou muito contente e chiripitifláutico para a casa.

Todo ia de maravilha para o nosso amigo o caramujo. Trabalhava as suas horas, ainda que o soldo nom lhe dava para grandes caprichos, e amais a raposa reclamava-lhe pontual cada mês os quartos que lhe devia ("mas nom fum eu quem lhe deu os quartos? Caghi-na-mar! Nom entendo nadinha!"). Mas o caramujo era feliz, porque a sua vida era tam exacta ao que lhe aprenderam na família e na escola de caramujos que nom podia sentir-se mais satisfeito consigo próprio.

Porém, um dia todo mudou. O seu chefe-gato, justo o mesmo dia em que rematou de fazer-se a sua nova piscina, justo o mesmo dia em que mercou o seu sétimo coche (que bonitos eram todos, arredemo!), o mesmo dia justinho em que por fim apareceu pola oficina despois de um mês de férias por paradisíacos países sub-desenvolvidos (que baratas iam as "copas" alô meu! E sem sair do hotel!), justo esse dia, o caramujo soubo que na empresa iam prescindir de moitos dos seus companheiros e companheiras. Quem sabe, se quadra também prescindiam dele próprio! O chefe-gato reuniu todo o quadro de persoal da empresa para lhes comunicar que a situaçom era crítica e que houvera moitas perdas, assim que havia que apertar o cinto ("pois nós trabalhamos arreio dia tras dia", pensou o atónito caramujo, "quem demo perderia o dinheiro?").

A notícia deixou-no perplexo, mas nom se desmoralizou. Seguiu indo a tomar cervejas com os seus amigos, nom deixou de acudir às ceias com os colegas de trabalho (às vezes iam a locais de caramujas do leste ou sudacaramujas, mas sem "subir", só por ver como era. Assim uma fim-de-semana, e outra e outra...). Jogava uma vez por semana com os filhos (ele era um pai aplicado, que caralho!), via o futebol no Caramujo-Bar mentres a mulher falava doutros caramujos famosos com as suas amigas e via os programas de amor-caramujo na TV de plasma que mercaram havia pouco. Às vezes o nosso amigo caramujo chegava muito estressado do trabalho e quedava com os seus amigos para consumir produtos que lhe permitiam esquecer os seus problemas, mas era algo esporádico e totalmente controlado.

Até que ao pouco tempo soubo que ele fora despedido igual que moitos outros colegas. A crise afectou-no como afectou os demais. E o negocio da raposa rosa, que também perdera quartos a moreias (mas fora resgatado pola "gente sábia" porque era um negocio muito importante, nom se sabia para quem nem porquê, mas era-o. E para isso usarom-se os quartos de todos os caramujos aforradores. Aquilo era demasiado complicado para lho explicar a simples caramujos de merda), pediu-lhe os quartos, como todos os messes.

E agora o caramujo está fodido. Porque resulta que os caramujos seguem o rastro dos demais caramujos, escondem as antenas quando tenhem medo do que nom entendem e sempre levam a "casa" às costas. Porque ninguém aprendeu o caramujo a pensar, e agora nom sabe onde ir para que lho aprendam.

Porque a escola dos caramujos fora pagada polo gato e a raposa.

E agora o caramujo já nom crê em nada nem em ninguém. E agora o caramujo crê que sendo melhor caramujo, sentira-se melhor e os demais possivelmente também o façam (mais dos demais importa-se pouco, em realidade). E agora o caramujo já nom repete sistematicamente o que lê nos jornais, pensa antes de falar e chora polas noites. Mas muitas vezes, logo de chorar, ri. Porque sabe que o gato e a raposa também choram. Porque entendeu que todos som iguais, só que alguns tivérom mais sorte ou já nascêrom com ela.

E agora o caramujo está aprendendo a ler viver... de verdade.

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